Ação é parte de projeto de extensão da Faculdade de Medicina de Bauru, em parceria com a Secretaria da Educação do município, e visa ao ensino e incentivo à ciência
Olhares atentos e curiosos. Mãos inquietas, explorando o desconhecido. Não no smartphone, mas em peças anatômicas de mamíferos. Assim foram duas manhãs de segunda-feira para cem estudantes entre 13 e 14 anos de idade do oitavo ano da rede pública, que participaram de atividade prática de dissecação desenvolvida sob supervisão no campus da USP em Bauru nos dias 29 de setembro e 6 de outubro.
A ação é parte de projeto de extensão da Faculdade de Medicina de Bauru (FMBRU) da USP, realizado em parceria com a Secretaria da Educação de Bauru junto à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Cônego Aníbal Difrância, e visa ao ensino e incentivo à ciência. A atividade prática ocorreu no Laboratório de Anatomia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP.
“O objetivo é proporcionar um melhor aprendizado das ciências biológicas no ensino fundamental, por meio da inserção no currículo regular de atividades práticas lúdicas relacionadas aos conteúdos ministrados pelos professores na escola, de forma a gerar mais engajamento e disposição para o processo de ensino-aprendizagem da matéria”, explica Bella Luna Colombini Ishikiriama, professora da FMBRU e coordenadora do projeto de extensão.
Segundo a docente, a visita ao campus é parte complementar das atividades. “Além de proporcionar a realização de dissecação de peças anatômicas de mamíferos, o que a estrutura laboratorial da escola não contempla, essa atividade permite ainda que os estudantes conheçam o ambiente universitário, com a finalidade de estimular a busca pelo conhecimento e o interesse pelo estudo universitário”, ressalta.
Retorno como universitária
“Queria muito vir aqui, observar, manusear, cortar os órgãos. Estou muito feliz que nossa escola e a USP proporcionaram isso pra gente, é uma oportunidade e tanto. Meu sonho é fazer Medicina, então essa visita foi mais um empurrãozinho para eu tentar alcançar meu objetivo. Quero voltar aqui como universitária”, relata Nicoly Cardoso, aluna da escola municipal.
Para Paula Silvestri Castello Branco, professora de ciências da Emef Cônego Aníbal Difrância, este projeto tem sido um grande diferencial para os alunos. “Sempre procuramos aliar a prática aos conteúdos ensinados. Mas conhecer a universidade, visitar um laboratório de anatomia bem estruturado e trabalhar com peças de animais, isso não teria como ser feito na escola, e traz muita realidade aos estudos”, avalia. “Os alunos também se mostram muito interessados nas atividades realizadas pela USP na escola, gostam bastante dessa parte prática, pois o que estão estudando passa a fazer mais sentido. Os mais desinibidos fazem muitas perguntas, querem se aprofundar, então acaba despertando o interesse deles para conhecimentos e experiências que vão além da sala de aula”, completa Paula.
“O que a gente está fazendo é tentar abrir os olhinhos desses adolescentes para a ciência, para que talvez eles queiram ingressar na universidade, fazer um curso superior, terem bons empregos e uma vida melhor. Nós fazemos dinâmicas, atividades práticas, já levamos microscópio, acho que estamos fazendo a diferença para eles. Essa conexão tem sido muito boa e é gratificante a gente conseguir retribuir o que temos recebido da universidade”, destaca Luís Fernando de Oliveira, estudante do terceiro ano de Medicina da FMBRU-USP e bolsista do projeto de extensão.
De acordo com o graduando, para as atividades e dinâmicas, são utilizados materiais comuns e acessíveis, muitos deles de uso doméstico, tais como filtro de café, bexiga, gel de cabelo, isopor, EVA, entre outros. “Para falar sobre o sistema reprodutor, abordamos as infecções sexualmente transmissíveis e mostramos métodos contraceptivos, explicando os benefícios e malefícios de cada um e a sua eficácia. Para falar do sistema endócrino, levamos aparelho de medir glicemia e explicamos como é a dinâmica do glicosímetro. Já utilizamos também pequenos balões para demonstrar como funciona a bexiga urinária e um pequeno filtro para demonstrar como funciona a filtração glomerular, realizada nos rins”, exemplifica.
Reprodução para outras escolas
Intitulado “Microscópios Ópticos: uma Abordagem para Ensino e Incentivo à Ciência”, o projeto de extensão é desenvolvido por um grupo de 24 pessoas, sendo cinco professores e 19 estudantes de graduação e pós-graduação da FMBRU e da FOB. Contemplado em edital conjunto das Pró-Reitorias de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) e de Pós-Graduação (PRPG) da USP, o projeto teve início em agosto de 2024 e será concluído em dezembro de 2025.
“Nesse período, a equipe de alunos realizou visitas à Emef Cônego Aníbal Difrância, trabalhando, com quatro turmas do oitavo ano, os conteúdos de ciências conjuntamente com atividades práticas e lúdicas. Para o próximo ano, planejamos submeter outro projeto junto aos editais de fomento da Universidade. A proposta é produzirmos uma apostila para capacitar os professores da rede pública a reproduzir os conteúdos de forma prática e lúdica em todas as escolas, por meio de metodologias e materiais simples e de baixo custo que utilizamos”, acrescenta a coordenadora, que é docente do Departamento de Medicina da FMBRU.
O projeto conta ainda com a colaboração de quatro professores da FOB: Camila de Oliveira Rodini Pegoraro, Rafael Carneiro Ortiz e Rogério Leone Buchaim (do Departamento de Ciências Biológicas), e Regina Tangerino de Souza Jacob (do Departamento de Fonoaudiologia).
(Reportagem e fotos: Tiago Rodella/Comunicação da USP Bauru. Publicado em 30/09/2025)